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      Carne e câncer: qual a relação ?

Cristina Paixão Lopes

24 Mai. 2015

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Já de início, precisamos esclarecer que o câncer é uma doença multifatorial, isto é, inúmeras situações podem detonar seu surgimento. Portanto, uma dieta ou outra não necessariamente vai causar um câncer ou proteger completamente contra ele, mas é indispensável se quisermos evitar o risco desta doença.

 

O câncer pode aparecer em virtude de propensão genética (embora esta causa venha ganhando cada vez menos peso), situações do ambiente (poluição, radiação, determinados produtos químicos no entorno), hábitos (fumo, alimentação, sedentarismo), traumas emocionais e há pesquisas sérias que associam o aparecimento da doença a determinadas características de personalidade.

 

Mas vamos, aqui, focar na carne, já que muito se fala que ela é uma importante causadora do câncer.

 

Ainda não há pesquisas definitivas que garantam a relação entre a ingestão de carne (principalmente a vermelha) e o câncer, porém as evidências são significativas para que levemos a informação a sério e repensemos nossa alimentação.

 

Em geral, o consumo de carne está associado a pelo menos três tipos de câncer: de intestino, de fígado e de próstata. (Já a ingestão de tomate aparentemente protege contra o aparecimento do câncer de próstata e a ingestão de quantidades diárias satisfatórias de vitamina D e cálcio também podem ser fatores protetores contra o aparecimento do câncer de intestino.)

 

Vamos a algumas pesquisas.

 

Um estudo recente desenvolvido por pesquisadores da Universidade da Califórnia, Estados Unidos, mostrou que determinadas formas de uma substância denominada ácido siálico – o ácido N-glicolilneuramínico (Neu5Gc) – pode provocar um processo inflamatório que predisposição ao câncer. O Neu5Gc não está presente no corpo humano, mas, sim, na carne. Esta substância, depois de metabolizada, permanece nos tecidos humanos, gerando a produção de anticorpos em circulação. A interação entre os antígenos circulantes e os anticorpos anti-Neu5Gc pode incitar processos inflamatórios, levar à produção de carcinomas (preponderantemente no fígado) e estimular seu crescimento. Portanto, os pesquisadores entendem que esta é uma explicação para a associação entre o consumo de carne vermelha e o possível desenvolvimento de câncer (SBOC, 2015).

 

Mas o consumo de carne vermelha não está associado somente ao câncer de fígado. A ingestão de carne vermelha tem sido vinculada à predisposição ao desenvolvimento de certos tipos de neoplasia, entre elas os tumores de intestino. As nitrosaminas, que são compostos produzidos a partir de nitritos e aminas, são conhecidas como agentes carcinogênicos e estão presentes, em diferentes concentrações, em vários gêneros alimentícios, como peixes, frutos do mar, cervejas, queijos e também em carnes vermelhas (produtos de origem animal), e em outros produtos presentes no ambiente, como o tabaco, pesticidas, borracha e cosméticos.

 

Mas não é somente a carne, em si, a responsável pela predisposição ao câncer. O modo como ela é preparada também tem importância, porque influi na concentração desses agentes carcinogênicos. Eles estão mais presentes nas carnes fritas, defumadas, curadas e nos churrascos preparados com carvão (GRUPO COI, 2015).

Os cientistas do Centro de Investigação Prospectiva sobre o Câncer e a Nutrição da Europa (Epic, na sigla em inglês), observaram os hábitos alimentares de mais de 500 mil pessoas na Europa ao longo de dez anos e concluíram que as que comem mais de duas porções de 80 gramas de carne por dia correm 35% mais riscos de desenvolver a doença do que as que comem apenas uma (ou menos de uma) porção por semana. Eles perceberam que os riscos de desenvolver câncer no intestino são menores entre as pessoas que ingerem muitas fibras por meio de alimentos como verduras, frutas e cereais (BBC, 2015).

 

Segundo David Servan-Schreiber (2008), ainda há outro fator que associa a carne e derivados de animais (leite e ovos) ao desenvolvimento de câncer: o desequilíbrio entre os ácidos graxos ômega-3 e ômega-6. Estes ácidos devem estar presentes em nosso organismo de forma equilibrada, em quantidades muito próximas. Porém os novos hábitos de criação de animais - fora do pasto e alimentados à base de soja, trigo e milho, além dos hormônios a que são submetidos para engordarem mais rapidamente - criaram um desequilíbrio entre esses ácidos, aumentando muito o ômega-6, que facilita o armazenamento de gorduras, a rigidez celular, a coagulação e a inflamação.

 

Portanto, cientistas do mundo todo e a própria ONU chegam a uma conclusão quase unanime: quando se trata de prevenção do câncer, deve-se optar por uma alimentação saudável e variada, dando preferência a alimentos vegetais orgânicos, cereais integrais, sementes e grãos e evitando os produtos industrializados, as carnes (principalmente as gordas) e leite e derivados. 
 

Referências:

BBC Brasil.  Carne vermelha aumenta o risco de câncer de intestino, diz estudo. Folha de S. Paulo, 16 jun. 2015. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u43483.shtml. Acesso em 24 mai. 2015.

 

GRUPO COI. Carne vermelha causa câncer? s.d. Disponível em: http://www.grupocoi.com.br/carne-vermelha-causa-cancer/#.VWInA0ZvTAQ. Acesso em: 24 mai. 2015.

 

SBOC - Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. Relação entre câncer e consumo de carne. 21 jan. 2015. Disponível em: http://www.sboc.org.br/relacao-entre-cancer-e-o-consumo-de-carne/. Acesso em: 24 mai. 2015.

 

SERVAN-SCHREIBER, D. Anticâncer: prevenir e vencer usando nossas defesas naturais. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.

 

 

 

 

 

 

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